Perguntas ao poeta que lê



Não fiquei muito surpreendida com este livro, sabendo de antemão que o autor preza e vivencia a espiritualidade, o belo, o verdadeiro, a justiça, o silêncio, a natureza das coisas e dos seres, bem como, os lugares, o tempo, a humanidade, a arte e a vida com as suas dicotomias.

“Perguntas Ao Poeta Que Lê”, é o título escolhido pelo autor, cujas palavras estão bem configuradas. Penso que não foi apenas um propósito estético, pois, o título de per si confere uma interação com o sujeito, ou seja, com o leitor, permitindo-lhe fazer uma pausa reflexiva entre as palavras.  O título faz-me lembrar “Cartas a um jovem Poeta” de Rainer Maria Rilke. Tal como nas cartas: “As Perguntas Ao Poeta Que Lê”, na minha opinião, são um convite que o J.J Garcia faz ao leitor, no sentido de desbloquear a criatividade, e serve de guia, como um caminho para a imaginação, reflexão, e a consciencialização. O autor, como qualquer um de nós, vive essencialmente com incertezas, à procura de si mesmo, no sentido de um pensamento e sentimento mais profundos de si, do outro e do mundo.

Logo na primeira página de fundo preto, posterior ao prefácio de Júlio Machado Vaz, julgo que premeditado, como sinónimo de sombra, J. J. Garcia questiona.se: “Sento-me ao Sol, sentindo o movimento da Terra com gente em cima. A pensar nos dias, entre geografias e geometrias, pulsões e cálculos estruturais, pergunto-me se poderá a sombra espreguiçar-se dentro do Sol” e, logo a seguir, mais abaixo, interroga o leitor, “Onde fica o intervalo dos pensamentos profundos?”. Esta questão é fundamental para refletirmos sobre como é essencial parar para pensar, para sentir, sem pressa, num mundo louco, onde a tecnologia, os números, as guerras, as catástrofes ambientais, os interesses políticos, económicos e sociais prevalecem e suprimem os valores humanos, a igualdade, a liberdade e o respeito pelo outro e pela natureza.

Tal como referi em cima, as incertezas fazem parte do autor, da natureza humana e J.J. Garcia escreve: “Viajamos pela incerteza. Seremos nós próprios uma pergunta, como pergunta Clarisse?”.

O Autor, neste livro, conjuga pensamentos de outros autores, poetas, escritores, conferindo-lhe intertextualidade intencional, reforçando desse modo, o significado da sua escrita, a partir de citações de outros autores, como se comprova mais adiante quando refere e cita Neruda: “A quem posso perguntar o que vim fazer a este mundo? “ .

Talvez a resposta esteja no interior de cada um de nós, se cada um é responsável pelo bem e mal que faz, no tempo que lhe é permitido permanecer enquanto ser terreno.

São muitas as perguntas, inquietações, incertezas e também a questão da morte: “O que acontece quando morremos?”.

“No fim de tudo sobrarão os oceanos?”.

 Esta pergunta fez-me refletir e visualizar o livro “O Destino de Fausto” de Oliver Jeffers. Uma fábula que bem ilustra algumas preocupações do J.J Garcia. Um homem que acreditava ser dono de tudo. Fausto é a personificação do Homem perante a natureza. Personifica um ser arrogante, autoritário e egoísta, autodeterminando-se dono de tudo, submetendo a natureza à sua vontade, a flor, a árvore, a montanha… e, quando tem a mesma pretensão com o mar, não consegue o que deseja.  Entra na água com a sua ira e autoridade e põe desse modo termo à Vida. O mar, continuou a ser o que era, bem como toda a natureza. O destino de Fausto não era importante para eles. O que somos nós perante essa imensidão?

São muitas as perguntas deste livro que nos transportam para diferentes perspetivas, para diferentes dinâmicas e contextos. Transportam-nos para um passado, um presente e um futuro, onde o tempo se faz de memórias, movimento e projeção. Algumas perguntas são tão subtis que nos tocam pela delicadeza da palavra poética, como esta: “Se uma palavra acordasse de manhã e quisesse ser poesia, que palavra seria?”.

Mas não só de palavras é composto este livro, também ele é composto por fotografias facultadas pelos seus autores, enriquecendo sobremaneira o livro, dando uma outra leitura, ou seja, diferentes interpretações, a partir de cada imagem. Há uma harmonia visível e sensorial, entre a imagem e o texto, apesar de serem duas formas de arte diferenciadas.

Este livro permite ao leitor uma diversidade de interpretações e reflexões. Tem como essência o sentido multifacetado, por isso mesmo a liberdade do leitor enfatizar a sua subjetividade perante as imagens e as perguntas que lhe entram pelo olhar atento e sensitivo.

Estamos perante um livro que é uma autêntica obra de arte. 

“Com saudades do futuro o que deixo de mim”?

J.J. Garcia

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